Revista Casa Marx

Lugar periférico, ideias modernas: aos intelectuais paulistas as batatas – entrevista com Fábio Querido

Iuri Tonelo

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Nesta entrevista exclusiva ao Instituto Casa Marx, o pesquisador Fábio Querido (Unicamp) comenta o lançamento de seu novo livro “Lugar periférico, ideias modernas: aos intelectuais paulistas as batatas”. Abordamos a trajetória da intelectualidade marxista paulista desde os anos 1950 — do primeiro grupo de seminários de O Capital no Brasil até os descaminhos de setores dessa intelectualidade durante o período neoliberal — e extraímos lições para pensar a atualidade.

Fábio Querido é professor livre-docente do Departamento de Sociologia da Unicamp, autor de “Michael Löwy: marxismo e crítica da modernidade” e “Daniel Bensaïd: intelectual em combate”. Recentemente, publicou a obra que discutimos nesta entrevista: “Lugar periférico, ideias modernas: aos intelectuais paulistas as batatas”.

A entrevista foi realizada por Iuri Tonelo, sociólogo, pesquisador de pós-doutorado (UFPE) e coordenador do Instituto Casa Marx.

Durante a entrevista, Querido recupera a história do primeiro grupo de seminários de O Capital de Karl Marx no Brasil, criado em 1958, destacando seus integrantes e as abordagens adotadas na leitura da obra. O pesquisador também discute as críticas e reflexões que podem ser feitas, hoje, sobre a conformação do marxismo na academia brasileira.

O percurso dessa intelectualidade nos anos 1980 é outro ponto central da entrevista, com foco nos debates sobre o desenvolvimento do capitalismo brasileiro, o pensamento desenvolvimentista (influenciado pela CEPAL) e a crítica à busca por uma burguesia nacional progressista, tese defendida pelo PCB. Querido analisa ainda o papel desses intelectuais no processo de transição democrática, durante os anos 1980, analisando também expressões de institucionalização dessa intelectualidade e os impactos (e falta dele) do ascenso operário de 1978-1980, incluindo tendência autonomistas (como a de Marilena Chauí naquele momento).

O impacto dos anos 1990, auge do neoliberalismo, também é tema da conversa, especialmente a partir da ascensão de Fernando Henrique Cardoso — ex-integrante desse grupo — à presidência da República, e o apoio e incorporação de personalidades com José Gianotti e Francisco Weffort. Além disso, analisa-se a atuação do Partido dos Trabalhadores (PT), que, naquele momento oposição, chegaria à presidência no início dos anos 2000, governando a partir da arquitetura neoliberal herdada por FHC.

Ao final, Fábio Querido propõe uma reflexão crítica inspirada em Roberto Schwarz, Paulo Arantes e Chico de Oliveira sobre a Nova República e os limites da democracia brasileira. E aprofundando o debate, destaca-se o papel central da tese do “desenvolvimento desigual e combinado” na formulação das críticas feitas por setores da intelectualidade paulista.

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