Revista Casa Marx

Poemas de uma estudante de Ensino Médio ao assistir “Ainda estou aqui”

Bella Mariano

Publicamos abaixo os poemas de Bella Mariano, estudante do Ensino Médio, após assistir o longa metragem, aclamado pela crítica internacionalmente, "Ainda estou aqui". O filme, baseado no livro do escritor Marcelo Rubens Paiva, retrata o desaparecimento político do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar e os dramas de sua esposa Eunice Paiva, interpretada brilhantemente por Fernanda Torres, e sua família para lidar com o fato.

 

Asas quebradas

Na noite escura da repressão,
Ecoa o peso da opressão.
Um país amordaçado, sem voz,
Onde cada suspiro desafia algoz.

Os livros queimados, ideias em cinza,
Sonhos que o medo aprisiona e reprisa.
Cada palavra vira ameaça velada,
Cada olhar, uma luta calada.

Nas ruas, a marcha de passos pesados,
Nos lares, segredos em sussurros guardados.
Jovens sonhadores, de olhos ardentes,
Desafiam os muros, são insurgentes.

Mas o preço é alto, o risco é real,
O futuro é incerto, o medo, fatal.
A tortura espreita em salas vazias,
Enquanto o silêncio preenche os dias.

Ainda assim, nas sombras, a chama persiste,
Uma fé teimosa que nunca desiste.
Pois a liberdade, embora ferida,
Renasce, insubmissa, mesmo abatida.

As asas quebradas voltam a crescer,
Na força do povo que aprende a vencer.
E quando o amanhã enfim se erguer,
Será com a coragem de quem quis viver.

No fim, a ditadura é apenas um tempo,
Mas a liberdade é eterno alento.
Ela rompe os grilhões, cruza os portões,
E floresce nos campos, em novas canções.

O sopro da farça

Certa voz, de timbre rude,
Ergue-se em tom de plenitude,
Dizendo-se guia, farol, razão,
Enquanto semeia a divisão.

Exalta o aço, a sombra do fardo,
De um nome antigo, sombrio e amargo.
Como se o peso da dor e do pranto
Fosse história limpa, sem desencanto.

Há quem se chame “terror”, em desdém,
Como se a bravata falasse além.
Mas o grito ecoa em silêncio aflito:
E quem aterroriza o povo bendito?

Na tela do sonho, pintou-se a mudança,
Mas o quadro revelou desesperança.
Prometeu o pão, serviu o rancor,
Fez-se do medo o seu condutor.

Cegos aplaudem o manto ilusório,
Esquecem da fome, do chão ilusório.
A mesa vazia, a mãe que implora,
Enquanto o “mito” sorri e ignora.

Na chuva de ouro que não veio do céu,
Há quem ainda veja anjos ao léu.
Mas a lama sobe, invade a visão,
Enquanto se erguem muros na nação.

E o tal “terror”, que tanto proclamou,
Deixou um legado que o tempo mostrou:
Não é a bravata que constrói a história,
Mas a justiça que traz a vitória.

O povo, que luta, é quem há de lembrar,
Que o tempo das trevas não há de durar.
Pois mesmo na sombra de tempos sombrios,
A luz resiste, entre muitos brios.

 

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