André Barbieri
Entrevistamos Carlos Eduardo Martins, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, professor Associado III do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Pós Graduação em Economia Política Internacional (PEPI/UFRJ), professor e pesquisador visitante no Arrighi Center for Global Studies, sediado na Johns Hopkins University. Editor-chefe da Reoriente: estudos sobre marxismo, dependência e sistemas-mundo. Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia de LEHC/UFRJ, pesquisador do CLACSO nos grupos de trabalho de Estudos sobre Estados Unidos e China e o Mapa do Poder Mundial. Editor do blog Recortes da Conjuntura Mundial.
Carlos Eduardo discorre sobre alguns dos temas candentes na desordem capitalista global com a assunção de Donald Trump 2.0, a guerra da Ucrânia e a busca da China por melhorar sua posição nesse sistema de Estados. Para ver a posição do Esquerda Diário sobre estes temas, incluindo a crítica do multilateralismo do capital e da noção da multipolaridade benigna, sugerimos esse artigo e os materiais disponíveis na seção internacional do nosso site, incluindo a introdução ao livro “China: onde os extremos se tocam”, publicado em 2025 pela editora Iskra.
André Barbieri: Trump alterou a postura que o governo Biden vinha adotando na Guerra da Ucrânia. Quais as razões para isso, é como essa nova política afeta a relação entre Washington, Pequim e Moscou?
Carlos Eduardo: Trump representa um ensaio de mudança radical nos paradigmas da política externa norte-americana. Ele parte da ideia de que os Estados Unidos estão em decadência em razão da globalização comercial, produtiva e política e elege a China como o seu principal adversário geopolítico e a tecnoburocracia liberal como o seu grande inimigo interno. E estabelece algumas premissas para redesenhar a estratégia internacional norte-americana: a escassez de recursos imposta pelo declínio de poder relativo exige economia de gastos no exterior e selecionar adversários, evitando múltiplas frente de batalha. Deve-se limitar drasticamente as políticas de hegemonia e reestruturar ou descartar a sua institucionalidade, pelas quais os Estados Unidos financiam suas alianças, principalmente através da criação e manutenção de extensos protetorados militares, dos quais a Europa Ocidental foi o principal até os anos 2010, quando foi ultrapassada pelo Leste Asiático, através de Japão e Coreia do Sul. Torna-se ainda fundamental abandonar a defesa do universalismo liberal que respalda e promove a agenda ambiental e divide o mundo entre democracias e autocracias, impulsionando um internacionalismo multiplicador de conflitos.
Trump busca então inverter a diplomacia de Kissinger/Nixon e convidar a Rússia para a Pax Americana, afastando-a da parceria estratégica com a China e se possível incluí-la em seu cerco. Para isso respalda a anexação dos territórios ucranianos ocupados, negocia a suspensão parcial de sanções comerciais, financeiras, políticas e diplomáticas, e pretende atuar como um poder estabilizador na Europa, dividindo-a em múltiplos conflitos internos, contidos pela capacidade de dissuasão estadunidense. A pacificação não pode ser forte o suficiente para pavimentar o caminho para a integração da Rússia e fortalecer a unidade europeia e deve incluir instabilidades permanentes a serem contidas pela mediação do poder norte-americano. O apoio à extrema-direita europeia, fortemente refratária à integração regional e às instituições supranacionais, além reforçar o ataque ao liberalismo, contribui para divisão política e limitação de escalas das respostas locais à redefinição das relações dos Estados Unidos com a OTAN, favorecendo o objetivo norte-americano de converter-se em exportador de equipamentos e serviços de defesa a preços monopólicos, o que exige restringir o desenvolvimento produtivo e tecnológico do complexo industrial-militar europeu.
Entretanto, trata-se de uma aposta desesperada de Trump. A sua oferta para a Rússia se resume a barganhar as ações deletérias que os Estados Unidos vêm empregando sobre o país e não pode se comparar à agenda positiva que a China disponibiliza por meio da parceria estratégica com Moscou, que Putin dificilmente limitará ou desacelerará. Por outro lado, a pretensão de passar de financiador de alianças a exportador de serviços e armas para cooperantes ou aliados exige manter uma assimetria na relação entre Estados Unidos e União Europeia, que não possui contrapartida em benefícios entregues pelos norte-americanos, podendo apenas se respaldar na desconexão entre o tempo das lideranças europeias e o da conjuntura contemporânea e na intimidação e ameaça. Todavia, está em curso uma profunda crise política na Europa, que o fracasso da OTAN na Ucrania e a inflação de 2023 aceleraram, e afetou alguns dos pilares do apoio à guerra e da subordinação militar aos Estados Unidos: o Partido Conservador de Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak, o Renaissance de Emmanuel Macron, e o Partido Social-Democrata de Olaf Scholz, todos derrotados nas eleições para o parlamento nacional.
Embora seja ainda muito insuficiente para uma mudança na política externa europeia e a redefinição de sua estratégia geopolítica, evidencia que a Europa está em movimento, e se intensifica o declínio e a pressão sobre o que Tariq Ali chamou de extremo-centro. Ele é representado tanto por conservadores e católicos quanto por sociais-democratas, socialistas e verdes, que constituem matizes de variação da gestão da reprodução ampliada do neoliberalismo e da subordinação militar ao imperialismo liberal estadunidense, onde a Rússia é apresentada como ameaça. A queda desses segmentos é contundente, se iniciou após a crise que estalou em 2008 e prossegue: em 2009, o Partido Popular Europeu e a Aliança Progressista de Socialistas e Democratas ainda tinham 63,6%, mesma faixa de que alcançaram em 1994, 1999 e 2004; mas em 2014 caíram para 51%, em 2019 para 48,2% e em 2024 para 45%.
A recusa de Trump em manejar a subordinação nos velhos termos e a sua imensa dificuldade de estabelecer qualquer ordem estável que beneficie a Europa e impeça a expansão do multilateralismo abrem o espaço para os europeus redescobrirem o seu lugar no mundo e retomarem sua autonomia nacional e regional. O centro político é obrigado a se mover e Ursula Von der Leyden aprovou no Parlamento Europeu o Rearme Europa, que propõe um orçamento de 800 bilhões de euros para impulsionar o complexo industrial europeu e reposicionar militarmente a União Europeia. Tal cenário aumenta o nível de ameaça no mundo, mas também o irracionalismo de a Europa seguir alinhada a um atlantismo que a limita como polo de poder mundial articulador da Eurásia. Se as esquerdas do velho continente se mantiverem nos termos da Guerra Fria e não redescobrirem a geopolítica, darão margem para o extremo-centro ou a extrema-direita fazê-lo, de forma própria, com consequências imprevisíveis.
AB: A União Europeia se mostrou em alarme diante da postura do Trump, e através da França e da Alemanha defende maior autonomia através da campanha pelo rearmamento europeu. Como você vê esse desenvolvimento?
CE: É um passo que cria elementos materiais de autonomia da política estratégica europeia em relação aos Estados Unidos e ao atlantismo e estabelece condições objetivas para uma redefinição das prioridades estratégicas da política externa europeia estabelecida no âmbito da Guerra Fria. Essa política externa está completamente obsoleta e acelera o declínio europeu. Não faz nenhum sentido para a Europa aliar-se às prioridades dos imperialistas estadunidenses que ora apresentam a Rússia, a China, ou ambas, como inimigas. A Europa Ocidental está estagnada e não se recuperou da crise de 2008-10, perdendo a capacidade de impulsionar as economias do Leste Europeu, cujo grande exemplo é a Ucrânia, em decrescimento entre 2013-2021, e muito mais após a guerra. Sua prioridade deve ser a construção de um espaço geoeconômico eurasiano que a integre na rota da seda, representando a Rússia, fornecedora de petróleo e gás, grãos e armamentos e pilar importante de cooperação científica e tecnológica, um importante corredor estratégico. Para isso, deve retomar o projeto da Casa da Europa formulado por Gorbachev e libertar-se da tutela da OTAN para associá-la à Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OCSE), muito mais ampla e que é composta atualmente por 57 países.
O desenvolvimento de um complexo industrial militar próprio aumentará a contradição entre uma Europa alinhada aos Estados Unidos e melancólica da condição de protetorado militar norte-americano no pós-guerra, de um lado, e as condições objetivas do século XXI que exigem outro tipo de enfoque. Entretanto a solução dessa contradição é política e as resistências ideológicas e a capacidade de cooptação e dissuasão dos Estados Unidos ainda são muito expressivas. As esquerdas europeias precisam redefinir o seu enfoque geopolítico para estarem à altura dessa nova situação. Devem romper com o imperialismo financeiro e a austeridade, reivindicar uma democracia substantiva que aprofunde seus vínculos com a diversidade, a pluralidade e o multiculturalismo, acolhendo alianças com conservadorismo tradicionalista, quando este representar uma força de resistência ao imperialismo liberal. Sua incapacidade de redefinir sua orientação estratégica e tática está tornando a extrema-direita europeia a principal beneficiária da crise do centrismo, o que pode contribuir para desenhar um projeto eurasiano baseado em um capitalismo de Estado conservador, sedimentado em valores antiliberais e na negação dos avanços promovidos pelo feminismo e os movimentos LGBTQIA+. Todavia essa alternativa encontra obstáculos na resistência do neofascismo europeu à regulação estatal da acumulação de capitais e em sua gravitação em torno ao poder norte-americano, onde o liberalismo ainda possui muita força social.
AB: Como a nova administração Trump vem modificando as relações comerciais no mundo, em função das políticas tarifárias?
CE: Trump tem a pretensão de usar a força do Estado norte-americano para conter e reverter as tendencias multipolares da economia mundial e submeter as pressões competitivas da economia mundial ao seu comando político. Para isso pretende substituir o neoliberalismo comercial, produtivo e político que o vulnerabilizou por um capitalismo de Estado global comandado pelos Estados Unidos, isolando as resistências até subordiná-las, dirigi-las, e se possível, destruí-las. Isso implica estabelecer uma agenda internacional e interna.
A agenda internacional se manifesta no abandono do imperialismo informal por um imperialismo tout-court, para usar um termo de Giovanni Arrighi, onde as relações de mercado passam a estar condicionadas cada vez mais pela violência, através de ameaças, sanções, embargos e guerras híbridas ou convencionais. Desde os anos 2010 o número de sanções e embargos se expandiu na economia mundial, deslocando-se de economias periféricas para as de maior porte. Isso ganhou fôlego no governo Obama, com sanções à Rússia, por conta da ocupação da Crimeia, da construção do gasoduto Nord Stream 2, e da suposta interferência nas eleições estadunidenses, mas alcançou outro patamar com Trump que escolheu a China como principal alvo. Em seu segundo governo, Trump dá novos saltos e utiliza de forma generalizada a ameaça de tarifas, sanções, embargos ou anexações, inclusive contra aliados e cooperantes, como forma de coação para obter subordinação e forçar decisões, seja para extorquir lealdade, perseguir adversários, aumentar o controle das fronteiras, proteger os produtores estadunidenses vinculados ao mercado interno, repatriar investimentos ou desglobalizar a economia mundial. Ele restabelece a doutrina do Destino Manifesto ampliando o seu escopo para todo o Hemisfério Ocidental e a pontos estratégicos, ao ameaçar tomar a Groelândia, o Canal do Panamá, a Faixa de Gaza, as reservas de terras raras e minerais estratégicos na Ucrânia, e anexar o Canadá.
A agenda nacional inclui a drástica redução de impostos para as corporações, o desmonte da legislação ambiental, o impulsionamento do extrativismo e da economia de combustíveis fósseis, a redução de direitos sociais, o desmonte da tecnoburocracia liberal, dos programas multiculturalistas, de ação afirmativa e de ajuda internacional e se complementa com a retirada dos Estados Unidos de organismos multilaterais de promoção de direitos (OMS e Conselho de Direitos Humanos da ONU) ou do Acordo de Paris para proteção do ecossistema do planeta e redução das emissões de carbono. Ela se baseia no controle de Trump da Corte Suprema e no direito a cometer ilegalidades, por meio da concessão do direito à imunidade relativa e o manejo da teoria executiva unitária, que considera o Presidente da República a fonte suprema de autoridade do Poder Executivo, lhe atribuindo a prerrogativa exclusiva de demissão. O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), dirigido por Elon Musk, que promove a depuração da burocracia governamental para submetê-la ao patrimonialismo da fidelidade política, possui acesso a segredos da inteligência de Estado, e sequer foi aprovado pelo Congresso.
Trata-se de montar as engrenagens de um capitalismo de Estado, com fortes dimensões neofascistas, para enfrentar as contradições do projeto em curso.
Entre as principais contradições do projeto de Trump podemos citar, em primeiro lugar, a superestimação do poder coercitivo dos Estados Unidos. Os Estados Unidos são uma economia com alto grau de parasitismo financeiro, acelerado declínio tecnológico e militar. Foram ultrapassados nos índices de registro internacional de patentes e no tamanho da marinha de guerra pela China, disputam com a potência asiática a liderança no ranking de empresas da Fortune 500 Global, estão sendo alcançados no domínio da microeletrônica e da Inteligência artificial, e estão muito atrás no domínio e produção de energias renováveis. A China se articulou com a Rússia, que supera os Estados Unidos em ogivas nucleares, através da Organização para Cooperação de Xangai, do acordo de cooperação estratégica assinado em fevereiro de 2022, e mediante o BRICS que passou por forte expansão após a guerra na Ucrânia, endossando o multilateralismo e colocando na pauta de discussão a desdolarização. A tentativa de Trump impor desvios de comércio e investimentos internacionais corre o risco de resultar no efeito oposto de marginalização dos Estados Unidos da economia mundial e no aumento da influência da China sobre as Américas.
China, México e Canadá somados respondem por mais de 40% das importações dos Estados Unidos e tem condições de reorientar investimentos e mercados. Pode ocorrer com os Estados Unidos de Trump o mesmo destino que atingiu a França napoleônica: pretendendo isolar a Grã-Bretanha do comércio mundial acabou se excluindo e ao continente europeu.
Em segundo lugar, se Trump recebe apoio crescente do Vale do Silício e das Big Techs em função da perda de sua vantagem relativa na fronteira tecnológica, tende a enfrentar maior resistência dos segmentos transnacionalizados mais estandardizados. O poder de os Estados Unidos repatriarem investimentos encontra limites nos diferenciais de salários na periferia que proporcionam maior taxa de lucro. Ainda que Trump corte impostos nacionais e penalize as importações com altas tarifas, a capacidade de deslocar investimentos enfrenta obstáculos como a provável recomposição da força da classe trabalhadora estadunidense que, derrotada pela deslocalização produtiva, tende a pressionar por aumentos de salários, auxiliada ainda pelo esvaziamento do exército industrial de reserva proporcionado pela deportação em massa de imigrantes que Trump quer perseguir, embora não tenha superado Biden nesse quesito em seu primeiro governo. Isso poderá minar o apoio de Trump entre os trabalhadores desorganizados que voltarão a se aproximar das organizações sindicais e dos movimentos sociais. A contenção desta contradição exigirá a construção de um capitalismo de Estado cada vez mais neofascista para enfrentar os setores populares e as dissidências nos setores burgueses.
AB: Trump parece querer retirar os Estados Unidos da “longa defensiva” em que ficou diante dos desafios de seus rivais. Existem contradições internas e externas contra esse objetivo. Como você vê a possibilidade de que Trump consiga evitar o seguimento da decadência hegemônica norte-americana?
CE: Trump tenta mudar os paradigmas da política estadunidense, romper com as políticas de hegemonia, quando os Estados Unidos eram responsáveis por uma ampla oferta de bens públicos para promover a reestruturação produtiva, financeira e institucional do sistema-mundo, e com o universalismo liberal, quando abandonam a teoria da balança do poder e a doutrina da contenção para se dedicarem à imposição da globalização e à mudança de regime em todo planeta.
O Estado norte-americano fez um conjunto de opções e de apostas muito agressivas que se revelaram insustentáveis a médio e longo prazo: a globalização comercial e produtiva foi estabelecida para subjugar a classe trabalhadora estadunidense, que nos anos 1960 articulou os movimentos sindicalista, estudantil, antiracista, e pela paz pressionando por redistribuição dos lucros, reformas sociais e políticas e pelo fim da guerra. O resultado foi um grande aumento da desigualdade, a importação da superexploração da força de trabalho, novos patamares de concentração e centralização de capitais, a derrota dos trabalhadores, mas também o declínio tecnológico e produtivo dos Estados Unidos que se imaginou financiar pelo monopólio do dólar, crescente endividamento público e pela conversão da burguesia estadunidense e atlantista em principalmente parasitária.
Escolheu-se a União Soviética como a grande adversária, convidou-se a China para a Pax Americana, empregou-se as armas para exibir o poder militar dos Estados Unidos no Iraque, no Afeganistão e na Líbia, e controlar a produção de petróleo e de ópio.
O resultado a médio prazo foi desastroso. A China manteve sua soberania, não cedeu à mudança de regime e nem limitou-se a se especializar em cadeias produtivas complementares às norte-americanas. Lançou através do planejamento estatal sua busca do controle da fronteira tecnológica, mobilizando parcerias e cooperação estratégica que impulsionam um projeto geopolítico não apenas eurasiano, mas do Sul Global, que desafia o poder naval sobre o mundo das ilhas ultramarinas articulando um projeto anfíbio e multipolar que mobiliza as grandes massas demográficas e espaços geográficos por meio de conexões intercontinentais.
Embora Trump tenha clareza da necessidade de mudar os padrões da política internacional estadunidense, o campo de ação estrutural para fazê-lo é muito limitado. Os Estados Unidos não tem a superioridade militar necessária para impor uma nova ordem, não possuem a capacidade de construção de alianças e mobilização internacional da China, se desgastam cada vez mais como um poder refratário aos consensos internacionais, não dispõem da força necessária para paralisar o avanço das tendências multipolares, e arriscam-se a se isolar dos fluxos comerciais, produtivos e financeiros. Têm ainda grandes restrições internas para criar um padrão de acumulação estável em favor do grande capital que seja capaz de repatriar investimentos e desglobalizar a economia mundial. Por isso, há muitas idas e vindas no discurso de Trump, hesitação e performance. Entre o seu desejo e a realidade há um vazio de poder, que lhe impõe a condição de um jogador de pôquer com cartas ruins na mão. O ilusionismo e a intimidação, que surpreendem de início, vão perdendo o seu efeito com o curso do processo histórico.