Leon Trótski
Texto disponível no Centro de Estudios, Investigaciones y publicaciones (CEIP) León Trotsky.
5 de junho de 1938 1
A campanha internacional que os círculos imperialistas estão realizando contra a expropriação das empresas petrolíferas mexicanas, feita pelo governo, distinguiu-se por apresentar todos os traços das bacanais propagandísticas do imperialismo: combina a impudência, o engano, a exploração da ignorância com a certeza de sua própria impunidade.
O governo britânico iniciou essa campanha ao declarar o boicote ao petróleo mexicano. O boicote, como se sabe, sempre envolve o autobloqueio e, portanto, vem acompanhado de grandes sacrifícios por parte de quem o aplica. Até pouco tempo atrás, a Grã-Bretanha era o maior consumidor de petróleo mexicano; é claro que não o fazia por simpatia ao povo mexicano, mas sim levando em conta seus próprios benefícios.
O maior consumidor de petróleo na Grã-Bretanha é o próprio Estado, devido à sua gigantesca marinha e ao rápido crescimento de sua força aérea. O boicote do governo britânico ao petróleo mexicano significava, portanto, um boicote simultâneo não apenas à indústria britânica, mas também à defesa nacional. O governo do Sr. Chamberlain demonstrou, com franqueza incomum, que os lucros dos ladrões capitalistas britânicos estão acima dos interesses do Estado. As classes e os povos oprimidos devem aprender profundamente esta conclusão fundamental.
Tanto cronológica quanto logicamente, o levante do general Cedillo resultou da política de Chamberlain. A Doutrina Monroe aconselha o Almirantado britânico a abster-se de aplicar um bloqueio naval-militar às costas mexicanas. Devem atuar por meio de agentes internos, que, na realidade, não agitam abertamente a bandeira britânica, embora favoreçam os mesmos interesses que Chamberlain serve: os interesses de uma quadrilha de magnatas do petróleo. Podemos ter certeza de que as negociações desses agentes com o general Cedillo não foram incluídas no Livro Branco publicado pela diplomacia britânica há alguns dias. A diplomacia imperialista realiza seus principais negócios sob o manto do segredo.
Com o objetivo de comprometer a expropriação aos olhos da opinião pública burguesa, apresentam-na como uma medida “comunista”.
Aqui se combina a ignorância histórica com o engano consciente. O México semicolonial está lutando por sua independência nacional, política e econômica. Tal é o significado básico da revolução mexicana nesta etapa. Os magnatas do petróleo não são capitalistas comuns, não são burgueses comuns. Ao se apoderarem das maiores riquezas naturais de um país estrangeiro, sustentados por seus bilhões e apoiados pelas forças militares e diplomáticas de suas metrópoles, fazem todo o possível para estabelecer no país subjugado um regime de feudalismo imperialista, submetendo a legislação, a jurisprudência e a administração. Nessas condições, a expropriação é o único meio eficaz de salvaguardar a independência nacional e as condições elementares da democracia.
Que rumo tome o desenvolvimento econômico posterior do México depende, decisivamente, de fatores de caráter internacional. Mas isso é uma questão para o futuro. A revolução mexicana está agora realizando o mesmo trabalho que, por exemplo, os Estados Unidos da América fizeram em três quartos de século, começando com a Guerra Revolucionária da Independência e terminando com a Guerra Civil pela abolição da escravidão e pela unidade nacional. O governo britânico não apenas fez tudo o que podia, no final do século XVIII, para manter os Estados Unidos como colônia, como também, mais tarde, durante os anos da Guerra Civil, apoiou os escravistas do sul contra os abolicionistas do norte, esforçando-se, em benefício de seus interesses imperialistas, para mergulhar a jovem república em um estado de atraso econômico e de desunião nacional.
Também para os Chamberlains daquele tempo, a expropriação dos escravistas aparecia como uma medida “bolchevique” diabólica. Na realidade, a tarefa histórica dos homens do norte consistia em limpar o terreno para o desenvolvimento de uma sociedade burguesa democrática e independente. Precisamente essa tarefa está sendo cumprida, nesta etapa, pelo governo do México. O general Cárdenas é um daqueles estadistas, em seu país, que realizaram tarefas comparáveis às de Washington, Jefferson, Abraham Lincoln e do general Grant. E, naturalmente, não é por acaso que o governo britânico, também neste caso, se encontre do outro lado da trincheira histórica.
Por mais absurdo que pareça, a imprensa mundial, e particularmente a francesa, continua arrastando meu nome em torno da expropriação da indústria petrolífera. Se já neguei essa estupidez, não foi porque eu tema a “responsabilidade”, como insinuou um falador agente da GPU. Ao contrário, eu consideraria uma honra assumir, ainda que fosse uma parte, a responsabilidade por essa medida corajosa e progressista do governo mexicano. Mas não tenho a menor base para isso. Soube pela primeira vez do decreto de expropriação pelos jornais. Mas, naturalmente, essa não é a questão.
Ao envolverem meu nome, perseguem-se dois objetivos. Primeiro, os organizadores da campanha querem dar à expropriação uma coloração “bolchevique”. Segundo, pretendem atingir o respeito nacional do México. Os imperialistas esforçam-se por apresentar o fato como se os estadistas mexicanos fossem incapazes de determinar seu próprio caminho. Uma psicologia escravista hereditária, indigna e mesquinha! Precisamente porque o México ainda hoje pertence àquelas nações atrasadas, que apenas agora se veem impelidas a lutar por sua independência, surgem ideias mais ousadas em seus estadistas do que aquelas que correspondem às escórias conservadoras de um grande passado. Já testemunhamos fenômenos semelhantes mais de uma vez na história!
O semanário francês Marianne, um importante órgão da Frente Popular francesa, chegou a afirmar que, na questão do petróleo, o governo do general Cárdenas agiu não apenas com Trotsky, mas também… a favor dos interesses de Hitler. Como se pode ver, trata-se de privar do petróleo, em caso de guerra, as grandes “democracias” de coração e, em contrapartida, suprir a Alemanha e outras nações fascistas. Isso não é nem um pouco mais sensato que os Processos de Moscou. A humanidade fica sabendo, não sem espanto, que a Grã-Bretanha foi privada do petróleo mexicano por má vontade do general Cárdenas e não pelo próprio boicote de Chamberlain. Mas então, as “democracias” apresentam uma forma simples de paralisar o complô “fascista”: deixem-nos comprar petróleo mexicano, mais petróleo mexicano e ainda mais petróleo mexicano! Para qualquer pessoa honesta e sensata, está fora de dúvida que, se o México fosse forçado a vender ouro líquido aos países fascistas, a responsabilidade por esse ato recairia total e completamente sobre os governos das “democracias” imperialistas.
Por trás de Marianne e sua gente estão os instigadores de Moscou. Isso parece absurdo à primeira vista, já que outros instigadores da mesma escola utilizam discursos diametralmente opostos. Mas todo o segredo está no fato de que os amigos da GPU adaptam seus pontos de vista às gradações geográficas de latitude e longitude. Se alguns prometem apoio ao México, outros pintam o general Cárdenas como aliado de Hitler. Sob este último ponto de vista, a rebelião do petróleo de Cárdenas deveria ser vista, ao que parece, como uma luta em favor dos interesses da democracia mundial.
No entanto, deixemos os palhaços e intriguistas à própria sorte. Não estamos pensando neles, mas nos trabalhadores conscientes de classe do mundo inteiro. Sem sucumbir às ilusões e sem temer as calúnias, os operários avançados apoiarão plenamente o povo mexicano em sua luta contra os imperialistas. A expropriação do petróleo não é nem socialista nem comunista. É uma medida de defesa nacional altamente progressista. É claro que Marx não considerou Abraham Lincoln um comunista; isso, no entanto, não o impediu de ter a mais profunda simpatia pela luta que Lincoln dirigiu. A Primeira Internacional enviou ao presidente da Guerra Civil uma mensagem de felicitação, e Lincoln, em sua resposta, agradeceu imensamente esse apoio moral.
O proletariado internacional não tem nenhuma razão para identificar seu programa com o programa do governo mexicano. Os revolucionários não têm nenhuma necessidade de mudar de cor e prestar vassalagem à maneira da escola de cortesãos da GPU, que, em um momento de perigo, vendem e traem o mais fraco. Sem renunciar à sua própria identidade, todas as organizações honestas da classe trabalhadora no mundo inteiro, e principalmente na Grã-Bretanha, têm o dever de assumir uma posição irreconciliável contra os ladrões imperialistas, sua diplomacia, sua imprensa e seus áulicos fascistas. A causa do México, como a causa da Espanha, como a causa da China, é a causa da classe operária internacional. A luta pelo petróleo mexicano é apenas uma das escaramuças de vanguarda das futuras batalhas entre opressores e oprimidos.
1. Tomado da versão publicada em Escritos, Tomo IX, p. 518, Editorial Pluma.