Revista Casa Marx

[ENTREVISTA] “Resgatar Rosa Luxemburgo para mostrar que o marxismo revolucionário é a ferramenta das novas gerações”

Redação

Entrevistamos Diana Assunção, dirigente nacional do MRT e autora do livro Rosa Luxemburgo: a águia da revolução, nova publicação da Editora ISKRA com apoio da Boitempo Editorial e Fundação Rosa Luxemburgo. O livro conta com prefácio de Isabel Loureiro, contracapa de Rita Von Hunty e posfácio de Guillermo Iturbide. O lançamento será dia 23/05 às 17h30 na Casa Marx e contará também com uma exposição sobre a vida de Rosa Luxemburgo através de uma parceria entre a Casa Marx e a Fundação Rosa Luxemburgo.

Na próxima semana haverá o lançamento de seu livro Rosa Luxemburgo: a águia da revolução. O que significa dizer que Rosa Luxemburgo é a águia da revolução para as novas gerações?

Eu acho que significa dizer que o marxismo revolucionário segue sendo a ferramenta fundamental para as novas gerações da classe trabalhadora e da juventude. Mergulhar em Rosa Luxemburgo é um convite a compreender as batalhas de toda uma geração de revolucionários para implementar os preceitos de Marx e Engels em uma atuação viva e concreta que atravessou a II Internacional. Rosa começou a militar aos 15 anos e sempre com muita personalidade enfrentou todos os tipos de percalços para se transformar na grande dirigente revolucionária que foi. Sua trajetória é marcada por fortes lutas políticas contra a revisão do marxismo e contra as políticas oportunistas que desviavam a luta revolucionária. Vejam que se trata de temas atualíssimos que seguem colocados como obstáculos para a luta dos trabalhadores. Por vezes Rosa é lembrada por uma ideia genérica de ser uma “lutadora” mas se secundariza este conteúdo afiado de crítica aos oportunistas e defesa do marxismo. Por isso também que Lênin a chamou de “a águia da revolução” porque foi a revolucionária que, na Alemanha, sendo imigrante inclusive, voou mais alto. Hoje, diante de uma situação internacional convulsiva que vivenciamos, resgatar esse sentido revolucionário da militância socialista é um caminho necessário para as novas gerações superarem o espírito de resignação que o capitalismo quer impôr.

O livro vem sendo apontado como uma visão inovadora sobre Rosa Luxemburgo no Brasil, pode comentar sobre isso?

Acredito que existem muitas interpretações sobre Rosa Luxemburgo no Brasil. Costumo dizer que, inclusive, Rosa vem sendo mais famosa por frases que não disse do que por frases que efetivamente disse. Creio que há uma tentativa de “suavizar” a figura de Rosa e a apresentar como uma possível alternativa ao bolchevismo – colocando um sinal de igual entre bolchevismo e stalinismo. Por um lado creio que se trata de uma operação para apagar as lutas políticas frontais de Rosa contra o reformismo, inclusive hoje Rosa parece ser unânime mesmo entre as direções reformistas contrastando com o isolamento persistente em que esteve em toda sua trajetória justamente por enfrentar o reformismo. Mas por outro lado também uma tentativa de separação entre Rosa e os bolcheviques que não aceitaram a degeneração stalinista da Revolução Russa.

Existem também outras visões que desenvolvem mais o conceito atribuído a Rosa de “socialismo democrático” e dentre esta vertente há inúmeras posições. Acredito que a principal novidade do livro é buscar analisar desde um ponto de vista marxista revolucionário, pensando também o futuro da luta socialista, os grandes pontos fortes de Rosa Luxemburgo mas também os debates sobre algumas ausências em seu pensamento que nos debates de convergências e divergências nos apresentam uma verdadeira “universidade de luta revolucionária” no sentido vivo de pensar os grandes dilemas da revolução. Essa sempre foi a essência de Rosa Luxemburgo e trazer ao público brasileiro o curso do desenvolvimento das suas conclusões ao calor da Revolução Alemã abre o caminho para múltiplas reflexões sobre as tarefas preparatórias da luta revolucionária desde a construção de partido revolucionário até a arte da insurreição.

Como você analisa a relação entre Rosa Luxemburgo e grandes revolucionários como Lênin e Trótski?

São muito interessantes as discussões entre estes revolucionários e a diferença é que trato esses debates como parte de um mesmo marxismo revolucionário, enfrentando as leituras que opõe Rosa a Lênin. Acredito que isso é uma construção política para apresentar Rosa como uma alternativa ao stalinismo, mas a opondo a Lênin e Trótski, e na parte transformando ela em uma Rosa mais “reformista” próxima do que ela mesma combatia na II Internacional nos debates com Eduard Bernstein e Karl Kautsky. As discussões entre Rosa, Lênin e Trótski partiam de diferenças importantes sobre a questão do partido, mas também outros temas fundamentais como que tipo de governo e quais as tarefas da revolução após a tomada do poder. Com Lênin em particular Rosa tinha muitos debates sobre centralismo democrático e a questão da espontaneidade. No livro analisamos essas diferenças a fundo, incluindo as críticas de Rosa a alguns elementos da política bolchevique na Revolução Russa com um capítulo inteiro dedicado a este debate. A discussão sobre espontaneidade por exemplo é muito interessante porque para além da posição certeira de Lênin acerca da organização consciente da classe, buscamos no livro investigar mais a fundo os aspectos da espontaneidade que Rosa enfatizava na luta contra as burocracias na II Internacional como um elemento que também pode aportar para hoje refletir um “socialismo desde a base” como apontam Emilio Albamonte e Matías Maiello em suas últimas elaborações.

Por que você optou por estudar as origens das influências de Rosa Luxemburgo no Brasil e a relação disso com os debates sobre a fundação do PT?

Considero muito interessante esta discussão. Sempre vejo direções de partidos reformistas reivindicando a Rosa e inclusive vemos alguns setores dizendo que havia um espírito “luxemburguista” nas origens do PT remetendo a este conceito a ideia de “basismo”, espontaneidade. Para mim é certamente um mérito das ideias de Rosa ser citada como parte da influência na formação de um partido de massas no Brasil, ainda que esta tese seja em si muito contraditória. Isso porque Rosa não seria Rosa sem sua luta política frontal contra o reformismo e sem sua batalha pela revolução. Neste sentido, é muito útil estudar como se deu a introdução do pensamento de Rosa no Brasil através do periódico Vanguarda Socialista de Mário Pedrosa e quais eram as referências que estavam por trás e a própria leitura de Rosa Luxemburgo. De novo identificamos que Rosa aparece como uma figura alternativa ao stalinismo e ao bolchevismo, e buscamos mostrar como essa operação na prática busca “social-democratizar” a figura de Rosa, nada mais distante de sua trajetória. Essas reflexões também permitem refletir sobre a tarefa atual e histórica da classe trabalhadora brasileira para superar o PT pela esquerda, enfrentando assim a extrema-direita mas também o capitalismo.

Qual a importância da abordagem sobre o herbário de Rosa Luxemburgo nesta publicação?

Para mim tem uma importância grande. A começar pelo projeto gráfico desenvolvido pela artista plástica e bióloga Lina Hamdan também no livro buscamos mostrar que não haviam “duas Rosas”, uma militante e uma que vivia sua vida pessoal. Mas que na realidade o herbário construído por ela, inclusive na prisão, expressava um sentido profundo do que pra ela seria uma vida comunista em harmonia com a natureza e os animais. Este elemento em Rosa não está desconectado de toda sua luta política e batalha por destruir o capitalismo, batalha que lhe custou a vida. Por isso o livro apresenta na capa uma exsicata do herbário com a “Árvore da esperança” entrelaçada ao título “a águia da revolução” buscando reproduzir essa ideia de “entrelaçamento” entre a fúria da luta revolucionária e a beleza de uma vida sem exploração. Este conteúdo está desenvolvido no belo texto de Lina Hamdan sobre o herbário, na parte Outros textos, e que conta também com o texto “Rosa Luxemburgo e a questão nacional” de Guillermo Iturbide e o posfácio “Make Rosa Luxemburgo Radical Again”, do mesmo autor. Como epílogo, trazemos o texto “Luxemburgo e a IV Internacional” de Leon Trótski. Ao final do livro, apresentamos uma cronologia da vida de Rosa e os grandes fatos políticos mundiais, bem como um glossário de partidos para ajudar na compreensão das discussões. O leitor também encontrará um caderno de imagens que apresenta mais de 90 fotos, algumas inéditas, buscando dar uma dimensão do quão potente foi a vida da revolucionária polonesa, e a última carta de Clara Zetkin para Rosa, inédita no Brasil, e que não chegou a tempo nas mãos de Rosa frente a seu assassinato brutal e covarde em janeiro de 1919.

Como você sintetizaria a importância de retomar Rosa para a revolução em nossa época?

Podemos retomar a célebre frase de Rosa sobre os rumos da humanidade com “socialismo ou barbárie” para pensar a situação atual que vivemos desde o genocídio na Palestina até a política anti-imigrantes que quer tornar seres humanos ilegais. Por isso o livro não é uma historiografia nem uma biografia, como aponta Isabel Loureiro em seu prefácio, e sim um debate de programa e estratégia, baseado nos conceitos teóricos do marxismo revolucionário, e na experiência dessa geração de revolucionários. Rosa com sua defesa enfática pela greve de massas e sua batalha contra as burocracias contribui muito para mostrar para as novas gerações que a revolução é uma saída frente a tamanha barbárie. Vale dizer também que sendo a maior dirigente mulher da história do socialismo internacional é uma grande referência para mulheres, homens e LGBTs. Faço um grande convite a leitura deste livro e a seguir estes grandes debates para pensar a revolução em nossa época.

Carrinho de compras
Rolar para cima